RIO São três jovens atores em começo de carreira, que já se conheciam de cursos de interpretação e teatro, e se tornaram ainda mais íntimos – muito íntimos – durante as filmagens de “Os 3″. Agora, eles dividem a mesma empresária, planos e expectativa para a estreia do filme, que teve première no Festival do Rio e chega aos cinemas em novembro.
No filme, Juliana Schalch, Gabriel Godoy e Victor Mendes vivem Camila, Cazé e Rafael, amigos que dividem um apartamento durante os anos de faculdade. Quando se formam, decidem transformar o lar em um reality show para continuaram juntos por mais tempo. Os problemas começam quando resolvem encenar um triângulo amoroso para garantir a audiência, deixando a relação mais… interessante.
Os três de “Os 3″ foram dirigidos por Nando Olival (“Domésticas”), que este ano já chamou atenção ao assinar o bem-sucedido clipe/comercial de celular de “Eduardo e Mônica”. Ele também assina o roteiro, escrito a quatro mãos com Thiago Dottori (“VIPs”), a partir da observação de como a geração dos seus filhos está entregue à falta de privacidade com o domínio das redes sociais.
“Mas eu tive o cuidado de não transformar isso em uma crítica”, ele explica. “Não queria que soasse como um sermão. Apenas observei esse universo. O filme não se posiciona nem contra nem a favor dos realities, até porque eu não tenho uma opinião formada sobre isso. O mundo é assim, não adianta lutar contra isso”, constatou.
A temática ajudou a atrair os atores – todos novatos no cinema, com exceção de uma ponta que Juliana fez em “Tropa de Elite 2” – para a bateria de testes. “Achei muito legal discutir essa questão. O que o filme faz é colocar esses personagens para serem os atores, os diretores e os roteiristas do próprio reality”, diz a atriz, que trabalhou na novela “Morde & Assopra”.
Ela e Victor passaram por seis testes até serem aprovados, numa seleção que envolveu 150 jovens. Uma das preocupações do diretor é que o trio protagonista tivesse química entre si e, por isso, ele testou vários grupos. Ninguém foi aprovado individualmente – Gabriel quase ficou de fora, porque era considerado velho demais para o personagem: na época, ele tinha 25 anos.
O ator, que interpreta o desencanado Cazé, contou que pesou na escolha o fato de ele, Juliana e Victor já se conhecerem antes das filmagens. Tinham estudado juntos. “Se já existia uma mínima relação entre a gente, ficou maior a partir do momento em que eles me acolheram nos testes”, revelou.
Nando acredita que foi feliz na seleção do trio. Durante o mês de filmagens, os atores criaram vínculos tão fortes e uma intimidade tão grande, que o diretor se questionou se seria capaz de levar aquilo para a tela. “Eles estão muito mais próximos do que consegui mostrar no longa. Até hoje, continuam colados, rindo um do outro, se beijando, se tocando”, entrega. Victor, o mais novo da turma, confirma. “A gente ficou muito amigo mesmo. Saímos do set muito próximos”, diz.
Essa cumplicidade foi essencial para as duas cenas de sexo do filme. Nenhum dos atores, nem o próprio diretor, tinham experiência com esse tipo de filmagem. “Acho complicadérrimo. Eu quis protegê-los ao máximo. Me senti um pouco pai nesse momento. As cenas são mais sentimentais que eróticas. Mas devem ter sido difíceis para os atores”, acredita Nando.
Os atores contam que houve um cuidado especial para que todo mundo se sentisse confortável e respeitado durante as filmagens. “A gente ensaiava com muito cuidado, para isso não ser confundido com algum interesse particular”, disse Victor. “A cena que fiz com a Ju é muito delicada, bem marcada, com movimentos muito específicos. Cada toque no corpo significava muita coisa”, esclarece. “E somos formados em teatro, não é nenhum tabu, estamos acostumados com isso”, ressaltou.
O tema do triângulo sexual não chega a ser novidade no cinema – inspirou desde o clássico “Jules e Jim – Uma Mulher para Dois” (1962) até os mais recentes “E Sua Mãe Também” (2001) e “Os Sonhadores” (2003), sem esquecer a série “Aline”, na TV Globo. “Mas o Nando falou para relaxarmos”, disse Gabriel sobre as referências. “A maneira como o triângulo se apresenta é bem inusitada”, ressalta Juliana. “E no momento que ele surge, vem como trator”.
Eles também não se sentiram desconfortáveis ao assistir às cenas de sua intimidade com o público, durante o festival. Os três concordam que o que prevaleceu foi a emoção de ver um trabalho realizado há dois anos finalmente chegando aos cinemas. “A sensação é de realização com a resposta do público”, diz Victor. “É muito gostoso ter o retorno da plateia. Esse é um trabalho de qualidade”, avalia a atriz.