Amizade Colorida é comédia para curtir no #Facebook

domingo, 9 de outubro de 2011



Uma ágil e colorida overdose digital definiria bem “Amizade Colorida”. O filme de Will Gluck (de “A Mentira”) começa cheio de referências, prometendo ser o “Pânico” das comédias românticas. Mas acaba seduzido (valha o trocadilho) pela própria fórmula e toma o mesmo rumo de todos os outros colegas de gênero.
Não que isso seja um problema. Basta ver “Simplesmente Amor” (2003) para perceber que comédia romântica nem precisa abrir mão dos clichês para ser inteligente. O problema é quando o filme acha que apenas os clichês são suficientes pra contar uma história – que, no fim, é sempre a mesma. É desse tipo de produção que “Amizade Colorida” tira sarro. Isso, porém, não o torna imune a clichezada toda, nem faz da metalinguagem algo significativo para o roteiro. Ela é apenas mais uma piada (engraçada!) entre as muitas que o filme conta.

Isso dito, é no mínimo hilário ver Jamie (Mila Kunis) subir em uma esteira de malas de aeroporto logo nas primeiras cenas. Mistura de profissional bem sucedida, mulher bem resolvida e periguete nas horas vagas, a personagem rouba a cena e faz gostar do filme apesar de qualquer coisa. De quebra, ainda deixa pra trás o estereótipo machista da típica menina boba que só faz sentido com homem do lado, bem comum em comédias românticas.
Não que o Dylan de Justin Timberlake (de novo fazendo bonito) não ajude a dar sentido na vida da desorientada Jamie. É só que, embora igualmente carismático, ele passa mais tempo desfilando roupas descoladas e cantarolando trechos de canções pop em falsete do que efetivamente fazendo algo que cause uma reviravolta na trama. É essa a sacada de “Amizade Colorida”: a mulher é a parte ativa do casal.

E isso fica claro na história. Dylan é um blogueiro pop em Los Angeles. Jamie, um headhunter nova-iorquina. Quando ela precisa encontrar um novo editor para uma revista masculina badalada, vê em Dylan o candidato ideal e faz de tudo para convencê-lo a se mudar para Nova York (ativa). Dylan, depois de muito titubear, aceita a proposta… apenas para fugir de um passado que só conhecemos depois (passivo).
Eis que a relação profissional vira sexual e, frustrados por relacionamentos anteriores, os dois decidem seguir apenas transando quando der vontade, sem se envolver um com o outro. O resultado é esse mesmo que você já sabe. Mas fique atento em quem toma todas as decisões significativas para que isso aconteça…

Em volta do casal gravitam personagens não menos interessantes, indo de um colega gay de Dylan (um inacreditável Woody Harrelson) à mãe maluco-beleza de Jamie (Patricia Clarkson). E todo mundo conversa numa velocidade estrambólica, exagerada, como se o roteiro tivesse sido escrito para Twitter.
Isso, aliás, casa-se perfeitamente com o exagero publicitário do filme, que vende Nova York, Los Angeles, revista, tablets, telefones, computadores e tudo o mais que coube na trama. O que não coube, sobrou pros créditos finais, que também não saíram incólumes. Fazer tudo isso soar natural e não atrapalhar a trama é tão louvável quanto desnecessário, mas vá lá. A ideia não é refletir, é curtir. Tipo um Facebook. Aliás, taí um filme pra quem curte redes sociais (e como “A Rede Social”, de novo, com Justin).

No fim, “Amizade Colorida” diverte, distrai e é gostosinho de ver. Sem pretensão, nem novidade, mas com o trunfo espertinho de trocar os papéis de gênero do casal.
Problema mesmo, só a decisão de filmar tudo em digital. A iluminação não ajudou e ficou tudo meio amarelo-hepatite. Seu coração vai doer mais em ver a cara da Mila Kunis meio laranja do que com o “drama” dos personagens, certeza.

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