#MTV faz 30 anos quase sem música

terça-feira, 2 de agosto de 2011



A MTV americana está completando 30 anos. Em 1º de agosto de 1981, quando a primeira transmissão atingiu os satélites das redes de New Jersey, uma contagem regressiva cronometrando o lançamento de uma nave da NASA e a chegada do Homem à Lua antecipavam uma chamada sensacionalista e irresistível: “Senhoras e senhores, rock’n roll!”.
O primeiro clipe exibido foi mais que oportuno: “Video Killed the Radio Star”, de The Buggles, cujo título indicava, em tradução literal, que o vídeo matou a estrela do rádio. Um abre-alas ideal ao fenômeno que o sucedeu.

A MTV surgiu quando a ideia de canais segmentados ainda era vista com desconfiança. Hoje, em especial graças ao advento da TV por assinatura, já é banal o conceito do canal de esporte para o pai, o canal de séries e novelas para a mãe e o canal de desenhos para as crianças. Na época, os adolescentes eram um público desprezado, e a televisão era, para os incompreendidos, mais um veículo de manipulação de massa do que um evento da cultura pop e contemporânea.
A MTV inverteu essa noção e, nos anos seguintes, converteu-se em marca de apelo mundial. Não se sabia – não se sabe – se ela fazia mais pelos artistas ou se os artistas faziam mais por ela. Foi por meio da emissora que Madonna, The Police, Duran Duran, Nirvana e Green Day se tornaram conhecidos.

O ápice foi o estouro de “Thriller”, de Michael Jackson, até hoje o álbum de maior vendagem da história. A natureza do talento de Michael é indiscutível, mas é de comum acordo que não teria atingido potências estratosféricas sem a MTV para transmitir, de novo e de novo, aquele clipe antológico que botou uma geração inteira para imitar a coreografia dos zumbis.
Com o tempo a emissora foi se segmentando. O clássico programa “120 Minutes” ajudou a popularizar o rock alternativo por um meio até então impensável: a televisão. Veio o “Yo! MTV Raps” e diversos programetes dedicados a gêneros e tribos específicas.

A apologia da relação entre artistas e emissora culminou em 1984, com a criação do VMA, o Video Music Awards, uma edição anual para premiar os melhores videoclipes. O evento está em vigor até hoje, ainda que passe longe da badalação de outrora.
Parte da culpa é da própria MTV, que abandonou seu slogan original de “música 24 horas” para colocar no ar mais reality shows que clipes musicais – alguns de baixíssimo nível, como “Jersey Shore”, sobre jovens promíscuos e iletrados, e até pegadinhas do malandro, como o já extinto “Punk’d”. Foram-se os antológicos shows acústicos, feitos exclusivamente para o canal, que deixaram de legado uma das melhores performances da carreira do Nirvana. Foram-se até os VJs.

Para justificar a mudança, costuma-se culpar a internet, como se o YouTube e similares não pudessem ter sido facilmente suplantados por iniciativas da própria MTV na web – o que o canal nunca se dispôs a fazer, preferindo mudar seu perfil. Se nos anos 1980, os Dire Straits cantavam “I want my MTV”, agora o rapper britânico Akala resume o drama no verso “And if TV don’t play me no more just Youtube me”.
É o dever de cada emissora se renovar dia a dia e se adaptar às tendências que determinam o comportamento atual. Cabe aí o senso de pioneirismo e liderança que compunham a MTV de 30 anos atrás e que parecem ter se esvaído ultimamente. Uma reflexão agridoce predita pela canção “Com Mais de 30″, de Marcos Valle, que se iniciava com a sugestiva frase “Não confie em ninguém com mais de 30 anos”. Certos idealismos, pregava a música (que também já cruzou essa barreira de idade), não resistem ao peso do tempo.

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