A série “Game of Thrones” encerra sua 1ª temporada no Brasil (canal pago HBO) neste domingo (3/7) em alta com o público – a audiência não parou de crescer, capítulo a capítulo – e com a crítica. Foi alardeada por toda a internet como a mais nova sensação da TV norte-americana. Um fenômeno, que teve sua 2ª temporada garantida imediatamente após a exibição do primeiro episódio.
Sim, Sean Bean está presente com sua espada e armadura medieval à la Boromir; sim, a história fala sobre reis, cavaleiros e honra; sim, há um anão na história; sim, há fantasia e citações sobre criaturas monstruosas e dragões; mas não, não há qualquer semelhança com “O Senhor dos Anéis”.
A produção é baseada na série de livros “As Crônicas de Gelo e Fogo”, do escritor americano George R. R. Martin, sobre um lugar chamado Westeros, um mundo (com traços de uma fictícia Europa medieval) onde o tempo de duração das estações do ano é completamente irregular. O inverno, por exemplo, pode durar décadas, o que torna o ambiente hostil até para os mais nobres e favorecidos. Um rei governa os sete reinos do continente e precisa manter sobre seu controle as principais dinastias, para manter a ordem e comandar a partir do Trono de Ferro.
Essa é a premissa de “Game of Thrones”, uma série que foi classificada pelo próprio produtor-executivo David Benioff como “Os Sopranos na Terra Média”, relacionando o seriado de uma família mafiosa e o mundo fantástico de “O Senhor dos Anéis”. No entanto, basta assistir aos seus primeiros minutos para perceber que o tom é completamente diferente do mundo criado por J.R.R Tolkien e entender como ela só poderia ter chegado à televisão por meio do canal pago HBO.
Todos os personagens são ambíguos e vivem num relacionamento de intrigas e jogos de poder. O sexo é a principal moeda de troca, mas não há nada glamourizado: há incesto, estupro, prostituição e promiscuidade. A violência é crua e sangrenta, com diversas decapitações e sem qualquer traço de heroísmo. E personagens queridos morrem, contrariando as expectativas do padrão deste tipo de histórias.
Benioff e seu camarada Dan B. Weiss levaram a proposta de filmar “Game of Thrones” à HBO, canal responsável por produzir seriados com conteúdo dramático e apelo adulto, como “Oz”, “Família Soprano” e “Deadwood”. Os executivos da HBO apostaram na ideia e desembolsaram US$ 10 milhões só para o primeiro episódio, que, inclusive, necessitou de refilmagens por conta da saída de alguns atores.
Ficou definido que cada temporada teria 10 episódios de uma hora de duração e contemplaria um livro distinto da série “As Crônicas de Gelo e Fogo”, formato que agradou ao dono da obra, George R. R. Martin, que sempre declarou que seriam necessárias dezenas de filmes para que sua história fosse adaptada nos cinemas. O escritor participou da transposição contribuindo para o roteiro, ao lado de Benioff e Weiss. E o resultado é espetacular.
A densidade de cada episódio faz com que o espectador termine um episódio desesperado para conferir o seguinte e conhecer as consequências do que ele acabou assistir.
Talvez a principal marca de “Game of Thrones” seja o tratamento dado aos personagens: não há heróis nem vilões, mas pessoas que agem com o simples propósito de sobreviver. Pegue Lorde Eddard “Ned” Stark (Sean Bean), Guardião do Norte de Westeros e amigo do rei. Já no primeiro capítulo vemos que ele procura manter sua honra e a da família, mas não hesita em decapitar um jovem desertor em frente ao seu filho, uma criança.
Na história, Ned Stark recebe o “convite” do Rei Robert Baratheon (Mark Addy) para ser seu conselheiro após o anterior morrer de forma misteriosa. O atual rei conseguiu o cargo após montar uma rebelião e matar o antigo monarca e toda sua família, com exceção de um casal de crianças que fugiu para terras distantes. Enquanto isso, a Rainha Cersei (Lena Headey, que já havia vivido outra rainha, a esposa do Rei Lêonidas no filme “300”) mantém um relacionamento incestuoso com seu irmão gêmeo Sor Jaime Lannister (Nikolaj Coster-Waldau) e conspira para que seu filho assuma o quanto antes o Trono de Ferro.
Do outro lado do mundo, a garota sobrevivente da família Targaryen casa-se com Khal Drogo (Jason Momoa, que viverá o novo Conan na refilmagem que está prestes a chegar ao cinema), comandante de uma tribo de nômades cujo exército pode ajudar-lhe a recuperar o trono do qual seria herdeira. E, na extremidade de Westeros, Jon Snow (Kit Harington), filho bastardo de Ned Stark, integra a Patrulha da Noite, grupo que vigia os limites do reino em cima de uma gigantesca muralha de gelo, construída séculos atrás para impedir a invasão de criaturas sobrenaturais que eles acreditavam estar extintas. Tudo isso, nas vésperas da chegada de um terrível inverno.
Por mais complexo que pareça, essas quatro linhas narrativas representam só uma pequena parte de todo um emaranhado de histórias e personagens que se cruzam e têm importante participação na trama geral, caso do anão Tyrion Lannister, irmão da rainha e ignorado pelo pai por conta de sua deficiência.
O personagem é, com o perdão do trocadilho, grandiosamente interpretado por Peter Dinklage, que já havia participado de séries como “Nip/Tuck”, “Threshold” e “30 Rock” e esteve presente em “As Crônicas de Nárnia 2 – Príncipe Caspian”. Tyrion se comporta com o cinismo de quem precisou adquirir muitos conhecimentos, já que não foi contemplado com a beleza e porte físico dos irmãos, tem um humor peculiar e adora uma farra sexual.
Apesar de se tratar de uma série de tema fantasioso – o prólogo deixa claro, por exemplo, que os sobrenaturais “caminhantes brancos” existem e rondam a Grande Muralha –, a produção prioriza o realismo e introduz de forma gradual os seres fantásticos, como ovos de dragão cristalizados e fósseis do animal, a aparição de “zumbis” e rituais mágicos. A trama explica que, desde a extinção dos dragões e a chegada do verão (quando desaparecem os “caminhantes brancos”), os próprios eventos sobrenaturais tornaram-se lendas e as intrigas e traições se mostraram muito mais ameaçadores.
E ameaça é o que mais existe no universo de “Game of Thrones”. Sua trama é completamente imprevisível e nenhum personagem está seguro. Para se ter uma ideia, a morte de um dos protagonistas no penúltimo capítulo deixou parte dos fãs não apenas inconformados, mas irritados. E é justamente essa característica que torna a série instigante: cada episódio traz uma ameaça real e o espectador corre o risco de ver seu personagem preferido ser morto – e alguns morrem, mesmo.
A 2ª temporada começa a ser rodada a partir do dia 25 de julho, baseada no livro seguinte, “A Fúria dos Reis”. O curioso é que o quinto livro, “A Dance With Dragons”, será lançado somente no dia 12 de julho nos Estados Unidos, e Martin já avisou que a coleção terminará com sete obras. Como entre o quarto e o quinto capítulos, Martin demorou quatro anos, se a HBO produzir uma temporada por ano e o escritor manter o ritmo de trabalho, a série poderá ficar paralisada. Como se vê, o inverno poderá chegar para os fãs também.
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